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sexta-feira, 26 de março de 2010

Anos Dourados



Autoria: Gilberto Braga
Direção geral: Roberto Talma
Supervisão: Daniel Filho
Período de exibição: 05/05/1986 – 30/05/1986
Horário: 22h
Nº de capítulos: 20

Elenco:
Alexandre Arraes – Fernando
Anselmo Vasconcelos – capitão Serpa
Antonio Calloni – Claudionor
Arthur Costa Filho – Olivério
Betty Faria – Glória
Bianca Byington – Marina
Cininha de Paula – prostituta
Cláudio Corrêa e Castro – Carneiro
Daniel Fontoura – Pedrinho
Denise Bandeira – Laís
Diego Sangiradi – Walter
Felipe Camargo – Marcos
Fernando Amaral – delegado Acioli
Glória Alves – Rosita
Helber Rangel – Rodolfo
Isabela Garcia – Rosemary
Izabella Bicalho – Solange
Jece Valadão – Gracindo
John Herbert – coronel
José Carlos Sanches – Chico
José de Abreu – Donelles
José Lewgoy – Brigadeiro Campos
Juan Daniel – padre Rodrigues
Lúcia Alves – Vitória
Lys Beltrão – Marlene
Malu Mader – Lurdinha
Maria Lucia Dahl – Abigail
Milton Moraes – Morreu (Cláudio)
Nívea Maria – Beatriz
Norma Geraldy – tia Pequetita
Paula Lavigne – Marly
Paulo Villaça – Joel
Roberto Pirillo – Rafael
Rodolfo Bottino – Lauro
Rosane Gofman – Lenida
Tânia Scher – Marieta
Taumaturgo Ferreira – Urubu
Tonico Pereira – Ronaldo
Vera Gimenez – Lílian
Yara Amaral – Celeste

A Trama:
- Um dos grandes sucessos da Rede Globo, a minissérie Anos dourados traz para a televisão o Rio de Janeiro na segunda metade dos anos de 1950 – mais precisamente a Tijuca, bairro da classe média carioca de tradição conservadora. Nesse momento, o Brasil era governado por Juscelino Kubitschek, e o país vivia um clima de otimismo. A política e a cultura traziam ares de progresso e desenvolvimento.
- Romantismo é a palavra-chave dessa trama, que tem como protagonistas Lurdinha (Malu Mader) e Marcos (Felipe Camargo), dois jovens que se apaixonam à primeira vista. Ela é uma normalista, estudante do Instituto de Educação, uma moça tímida, submissa e muito doce. Ele, aluno do tradicional Colégio Militar, um rapaz íntegro e puro. Os dois se conhecem durante um baile. Eles se olham e se aproximam ao som de I apologize , na voz de Billy Eckstine, e dançam de rosto colado ao som de Anos dourados, de Tom Jobim. A romântica cena é um marco na história da teledramaturgia.
- Tudo parecia perfeito para os dois jovens, mas a família de Lurdinha proíbe o namoro dela com Marcos por ele ser filho de pais separados. Os pais da moça, Dr. Carneiro (Cláudio Corrêa e Castro) e Dona Celeste (Yara Amaral), tentam de todas as maneiras afastar a filha do rapaz. Lurdinha não tem diálogo com sua família, que é extremamente convencional, e não consegue defender o amor que sente por Marcos. Sua mãe é uma dona-de-casa conservadora, voltada para a educação dos filhos, extremamente preconceituosa e sempre preocupada com as aparências. Seu marido, Dr. Carneiro, é um pediatra renomado, um exemplo de bom pai e marido. Admirador ferrenho de Carlos Lacerda, também é extremamente moralista.
- Paralelamente à trama de Marcos e Lurdinha, desenvolve-se a história de amor entre a mãe de Marcos, Glória (Betty Faria), e o major Dorneles (José de Abreu). O conflito desse casal maduro, em contraponto com os jovens apaixonados, é o adultério. Dorneles é casado com Beatriz (Nívea Maria), com quem tem três filhos: Lauro (Rodolfo Botino), Marina (Bianca Byington) e Solange (Isabela Bicalho). O casamento está fracassado, mas Dorneles não consegue romper com a instituição da família. Glória, por sua vez, é discriminada por ser desquitada. Ela trabalha como caixa em uma boate elegante de Copacabana, a Glamour, e é também discriminada por trabalhar, principalmente em uma boate. Mãe dedicada e amorosa, Glória sempre atendeu às necessidades do filho, seu grande companheiro, de quem cuidou sozinha a vida inteira. Ao conhecer Dorneles, ela se apaixona, sem saber que ele é um homem casado. Ele também se apaixona verdadeiramente por ela, mas não sabe como lidar com a situação e esconde que tem família. Dorneles passa a viver um conflito: como enfrentar a mulher, uma boa esposa, os filhos e a sociedade para viver um grande amor? A trama dá uma reviravolta, e Glória acaba descobrindo que Dorneles é casado. Arrasada, ela decide se afastar dele.
- O ex-marido de Glória é Cláudio (Milton Moraes), a quem ela chama de Morreu. Músico de uma orquestra, ele é irresponsável e está sempre com dificuldades financeiras. Nunca ajudou na educação do filho, nem emocional, nem financeiramente, deixando tudo nas costas de Glória.
- Outro jovem casal também tem papel fundamental na narrativa: Urubu (Taumaturgo Ferreira) e Rosemary (Isabela Garcia). Urubu é um animado galanteador, que não se separa de seus óculos de aro preto, iguais aos do ator James Dean no filme Juventude transviada. Grande amigo de Marcos, ele é extrovertido e simpático e às vezes se comporta como o personagem vivido por Jerry Lewis em O professor aloprado, cuspindo nas mãos para ajeitar os cabelos, pondo o cigarro no canto da boca e usando jaqueta com a gola levantada. Rosemary, por sua vez, é amiga de Lurdinha, a mais avançada das meninas de sua turma, sempre com idéias modernas para o seu tempo.
- Mesmo com a proibição dos pais, Lurdinha não deixa de se encontrar com Marcos. Ela não revela a ele que esconde o namoro de sua família. Ele insiste em conhecer os pais da moça, mas ela acaba sempre inventando uma desculpa. Até que, um dia, Marcos aparece sem avisar na casa de Lurdinha e pergunta a Celeste e Carneiro se eles vêem com simpatia o namoro dos dois. Desconcertados ao descobrirem a mentira da filha, eles tratam o rapaz com simpatia, mas inventam que Lurdinha está de castigo por conta de notas baixas e não poderá vê-lo. Os pais de Lurdinha decidem, então, aceitar o namoro da filha com Marcos, acreditando que, concedendo permissão para o romance, ela logo se desinteressará dele, pois, segundo eles, o "fruto proibido" é que está motivando a filha.
- Com o tempo, Marcos e Lurdinha passam a viver o conflito de se sentirem sexualmente atraídos um pelo outro e serem tomados por um grande sentimento de culpa, já que, na época, sexo antes do casamento era tabu. Lurdinha chega a perguntar para a mãe se é normal sentir desejo pelo namorado, e Dona Celeste, sempre repressora, responde: “Sexo é pecado. A mulher só pratica o sexo depois de casada, para satisfazer o marido”.
- Marcos também recorre ao pai para conversar sobre o assunto, e ele o aconselha a procurar prostitutas, mas o rapaz só pensa em Lurdinha. Junto com Urubu e Gracindo (Jece Valadão), ele vai a um bordel, mas não consegue ter relações com nenhuma mulher. Então, decide sair com Rosemary, a moça mais transgressora da turma. Lurdinha flagra os dois aos beijos e, arrasada, rompe com Marcos. Ela, por sua vez, decide sair com Lauro, que sempre a paquerou. Marcos fica surpreso ao descobrir que Rosemary, na realidade, é virgem e se assusta ao perceber que ela está apaixonada por ele. Urubu revela a Lurdinha as razões que levaram seu namorado a procurar Rosemary, e ela fica feliz em saber os motivos. No capítulo 15, ela procura Marcos, diz que o ama e que quer se casar com ele. Os dois, apaixonados, se amam, em mais uma cena marcante da minissérie.
- Depois de muitos conflitos, Marcos e Lurdinha terminam juntos e felizes. Dr. Carneiro, para o choque de todos, suicida-se, ao descobrirem que ele tinha uma amante, Vitória (Lúcia Alves). Celeste entra em uma crise de depressão e não consegue superar o duro golpe. Por outro lado, Dorneles finalmente se separa de Beatriz e vai morar com Glória. Beatriz decide voltar a estudar e dar um novo rumo em sua vida.
- As tramas amorosas ganham densidade pelo fato de a história ser ambientada numa época de controle de comportamento e repressão sexual. A partir dessas relações, a minissérie retrata os preconceitos e as regras ditadas pela família e pela escola, que geram choques entre pais e filhos, e discute questões como o moralismo e a hipocrisia da sociedade da época. Em meio ao clima de romantismo, vestidos rodados, brilhantina no cabelo e copos de cuba-libre, a minissérie aborda tabus como virgindade, aborto, desquite, masturbação e casos extraconjugais.
- Os diálogos dos personagens procuravam reproduzir a típica dubiedade que marca a época entre conservadorismo de costumes e discurso desenvolvimentista. Em determinado momento da trama, por exemplo, retrucando uma observação de sua mulher, Dr. Carneiro diz: “Aqui em casa não entra mulher desquitada, getulista e nem ateu.” Em outra cena, o personagem diz que a cidade de Brasília, já em construção, é “um sonho louco de um político irresponsável”. Primorosos, os diálogos da minissérie reuniam gírias, cacoetes e expressões dos anos de 1950, o que acabava revelando com fina ironia os preconceitos e as convicções dos personagens.
- Antes de cada capítulo, fazia-se uma retrospectiva do anterior, narrada por Paulo César Pereio. Na cena final de cada episódio, também era mostrado de forma compacta o que havia acontecido a cada um dos jovens protagonistas.

Produção:
- O trabalho das equipes de figurino, cenografia e direção de arte merece destaque, pela primorosa reconstituição de época, que reproduziu com exatidão o Rio de Janeiro dos anos de 1950. Foi necessária uma pesquisa detalhada para desenhar de forma mais verossímil possível o período retratado.
- Para compor esse clima, os personagens circulam em cadillacs e automóveis rabo-de-peixe. A juventude exibe uniformes dos tradicionais colégios públicos cariocas daquele período. Nos bailes de formatura, os pares dançam de rosto colado e a bebida que circula é o cuba libre. Os rapazes usam topetes com brilhantina, e as moças desfilam seus vestidos rodados feitos de tule. Alguns homens também adotam um visual inspirado no filme Juventude transviada, de Nicholas Ray, como o personagem Urubu, enquanto muitas mulheres lançam mão do corte de cabelo conhecido na época como “taradinha”, curto, mas com movimento, feito com pega-rapazes na franja. Para dar vida à sua personagem, a atriz Betty Faria adotou esse corte, inspirada em Gina Lollobrigida, no filme Trapézio (1956). O telespectador reconhecia em cena objetos dos anos 1950, como xícaras e louças em geral, licoreira em forma de boneca, canetas-tinteiro, rádios, entre muitos outros objetos e adereços que compunham os cenários.
- O diretor Roberto Talma conta que transformou a rua de um condomínio em Jacarepaguá em cidade cenográfica. Ele lembra que, às vezes, era preciso pintar os postes das ruas de preto, pois não havia postes de cimento nos anos de 1950, só de ferro.
- A figurinista Helena Gastal também tem recordações da minissérie. Ela conta que tudo era muito corrido e improvisado. As atrizes, por exemplo, se apertavam atrás de tapumes espalhados pela rua do condomínio em Jacarepaguá e lá trocavam suas roupas.

Curiosidades:
- O título Anos dourados foi idéia de Daniel Filho. Ele conta que havia um projeto da Casa de Criação Janete Clair para produzir minisséries sobre diferentes épocas da história do Brasil. Criada em 1985, por Dias Gomes, a Casa de Criação Janete Clair tinha o objetivo de elaborar e selecionar roteiros para as produções teledramatúrgicas da emissora. A partir dessa idéia, foi decidido que a década de 1950 ficaria com Gilberto Braga. Para a trama sobre os anos de 1960, Gianfrancesco Guarnieri foi o nome sugerido. No entanto, Guarnieri acabou se envolvendo em outros projetos da emissora, a Casa de Criação Janete Clair fechou e, anos depois, o mesmo autor dos Anos dourados, Gilberto Braga, veio a escrever a minissérie Anos rebeldes, retratando o duro período de repressão do regime militar.
- Pela primeira vez o autor Gilberto Braga escrevia uma minissérie na Rede Globo. Segundo ele, Anos dourados é o maior sucesso de sua trajetória profissional, a produção de maior repercussão.
- Logo depois de escrever a novela Corpo a corpo (1984), o autor pensou que a atriz Malu Mader, que interpretava Bia na história, daria uma linda normalista. A partir dessa idéia, passou a pensar na sinopse da minissérie.
- Além de realizar pesquisas de época e recorrer à sua própria memória, Gilberto Braga também se reuniu com amigos e conhecidos que viveram os “anos dourados” e aproveitou suas histórias. A cena, por exemplo, em que Marcos pula o muro da escola para encontrar Lurdinha às escondidas, foi escrita a partir desses testemunhos.
- A minissérie Anos dourados marca a estréia na Rede Globo de Felipe Camargo, que recebeu inúmeros elogios pelo seu trabalho como o doce e apaixonado Marcos. O desempenho como Lurdinha também rendeu elogios à atriz Malu Mader.
- A minissérie foi reapresentada duas vezes: em outubro de 1988 e em agosto de 1990, no Festival 25 anos da Rede Globo. Em 1990, foi compactada em vídeo pela Globo Vídeo. Em abril de 2003 lançou-se o DVD da minissérie. Gilberto Braga foi responsável pela edição da história em DVD.
- Anos dourados foi vendida para mais de 20 países, entre eles Albânia, Canadá, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, Turquia, Uruguai e Venezuela.

Trilha sonora:
- Pela primeira vez, Gilberto Braga, além de escrever a história, acumulava a função de produtor musical. Ao lado do diretor musical Paulo César Saraceni, Gilberto Braga foi responsável pela produção musical da minissérie e do LP. A trilha sonora era apresentada de forma diferente: nenhum personagem tinha tema musical próprio, nem mesmo os casais apaixonados. As melodias acompanhavam o clima de cada cena, conforme indicação do próprio Gilberto Braga nos capítulos que escrevia.
- A trilha reunia gravações de Nat King Cole, Maysa, Dolores Duran, Dick Farney, Elizeth Cardoso e outros nomes marcantes da cena musical da década de 1950. Tom Jobim compôs a música da abertura: Anos dourados. Logo depois, Chico Buarque compôs a letra da canção, que acabou se tornando um grande sucesso da música popular brasileira.
- Quando Tom Jobim chamou o autor Gilberto Braga para lhe mostrar a música que havia composto especialmente para a minissérie, fez uma exigência: que a atriz Malu Mader acompanhasse o autor, pois ele tinha muita vontade de conhecê-la.

Fonte: Memória Globo

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