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terça-feira, 30 de março de 2010

A Muralha



Autoria: Maria Adelaide Amaral
Escrita por: Maria Adelaide Amaral, João Emanuel Carneiro e Vincent Villari
Direção: Denise Saraceni, Carlos Araújo e Luís Henrique Rios
Direção geral: Denise Saraceni
Direção de núcleo: Denise Saraceni
Período de exibição: 04/01/2000 - 28/03/2000
Horário: 22h30
Nº de capítulos: 49

Elenco:
Ada Chaseliov - Leonor
Alessandra Negrini - Isabel
Alexandre Borges - Dom Guilherme Shetz
André Gonçalves - Apingorá
Angelo Paes Leme - Vasco Antunes
Antonio Castiglioni - Sacristão
Antonio de Bonis - Capitão do Barco
Antonio Gonzalez - Soldado na Praia
Arnaldo Marques, Sergio Stern - Condenados
Cacá Carvalho - Frei Carmelo
Cacique Xavante Marvel - Cacique Guaianás
Caco Ciocler - Bento Coutinho
Carlos Eduardo Dolabella - João Antunes
Cecil Thiré - Dom Bartolomeu
Celso Frateschi - Afonso Góes
Cesario Augusto - Mameluco que ataca Moatira
Charles Paraventi - Padre Jesuita da Praia
Cláudia Ohana - Dona Antônia
Deborah Evelyn - Basília
Edwin Luisi - Dom Gonçalo
Elias Andreato - Samuel, Pai de Ana
Elias Andreatto - Dom Cardoso (pai de Dona Ana)
Emanuelle Soncini e Vivian Vieira - Índias que trabalham com Guilherme
Emiliano Queiroz - Dom Falcão
Enrique Diaz - Aimbé
Ewirges Ribeiro "Bumba"- Genoveva
Hélio Fonseca - Ordinário
Irving São Paulo - Mestiço de Bento Coutinho
João Pedro Roriz - Parati
José de Abreu - Inquisidor
José de Abreu - Inquisidor-Mor
José Wilker - Dom Diogo
Leandra Leal - Beatriz
Leonardo Brício - Tiago
Leonardo Medeiros - Leonel
Letícia Sabatella - Dona Ana
Luís Mello - Dom Manoel
Mac Suara - Pajé Aldeia Apingorá
Maria Luisa Mendonça - Margarida
Maria Maya - Moatira
Matheus Nachtergaele - Padre Miguel
Mauro Mendonça - Dom Braz Olinto
Michauaka - Indio da tropa de Guilherme
Mira Palhetta - Estalajadeira Silveria
Patrick de Oliveira - Tuiú
Paulo José - Padre Simão
Pedro Fuchs, Marcos Fuchs - Filhos de Moatira
Pedro Paulo Rangel - Mestre Davidão
Regiane Alves - Rosália
Rita Martins - Iamê
Roberto Lopes - Mestiço de Guilherme
Sergio Mamberti - Dom Cristóvão
Silvia Nobre - Índia Jovem
Stênio Garcia - Caraíba (participação especial)
Tarcísio Meira - Dom Jerônimo Taveira
Vera Holtz - Mãe Cândida

A Trama:
- Baseada na obra homônima de Dinah Silveira de Queiroz – lançada em comemoração aos 400 anos da cidade de São Paulo –, a minissérie A muralha conta a saga dos bandeirantes, pioneiros no desbravamento do território brasileiro. Paulistas em sua maioria, por volta de 1600, suas atividades consistiam em abrir rotas rumo ao interior do país em busca de riquezas e, também, índios, para serem vendidos como escravos. Mesmo sob domínio territorial português, a luta pela posse das propriedades era constante. Vindos de diferentes partes do mundo, inúmeros forasteiros e estrangeiros tentavam se apossar do território conquistado pelos bandeirantes. A muralha que dá nome à série faz referência à Serra do Mar, um grande obstáculo às incursões ao centro do país.
- É pelas cercanias da Vila de São Paulo, na fazenda de Lagoa Serena, após atravessar a muralha, que habita Dom Braz Olinto (Mauro Mendonça), um patriarca que lidera sua família e sua bandeira com muito trabalho e sacrifício. Sua luta principal é dominar e vender mão-de-obra indígena, adquirida através das empreitadas feitas ao interior. Nisto se difere de seu filho Tiago Olinto (Leonardo Brício), que vê na conquista do ouro a grande razão para seu empenho pessoal. Junto de Dom Braz em suas aventuras está também Afonso Góis (Celso Frateschi), seu genro, casado com Basília (Deborah Evelyn), sua filha. O casal padece da dor da perda do filho Pedro, que desapareceu, aos 13 anos, durante uma expedição com o pai. Em função disso, a expectativa pelo reencontro do filho é uma constante para Afonso e Basília. Rosália (Regiane Alves), a caçula de Braz, é uma jovem determinada, que se dispõe a largar tudo quando se apaixona de verdade por Bento Coutinho (Caco Ciocler), que trabalha na bandeira de seu pai.
- Ainda na fazenda, mora Mãe Cândida (Vera Holtz), esposa de Dom Braz, que assume a casa nos períodos em que os homens estão fora. Afetuosa, porém contida, seus critérios não se baseiam na religião ou na justiça, mas nas prioridades de seus homens. Junto dos filhos mora a sobrinha Isabel (Alessandra Negrini), a única mulher a enfrentar a mata e as batalhas no meio dos homens. Ela é considerada por Dom Braz o melhor soldado de sua tropa, inclusive, porque salvara a vida do tio durante um ataque à aldeia, exibido ainda no primeiro capítulo. Isabel é apaixonada por Tiago e tem comportamento selvagem, o que a faz sentir-se quase como um bicho. As cenas iniciais da minissérie reproduzem a captura de índios pelos bandeirantes, que era feita de forma violenta e repleta das atrocidades inerentes à cultura de poder baseado em opressão, conforme o pensamento então vigente.
- Após a batalha, Dom Braz informa Tiago de que havia mandado vir de Portugal uma mulher – que não fosse uma nativa, ou impura – para se casar com o filho. O conflito entre os dois é inevitável. Tendo sido criado no Colégio dos Jesuítas, Tiago teve contato com pensamentos renascentistas e era contra a dominação e o desrespeito aos índios. Seu interesse estava concentrado na observação de estrelas e em sonhar com a conquista do ouro no sertão, na cidade de Sabaraboçu, que muitos achavam se tratar de uma lenda. Tiago tem como melhor amigo o índio Apingorá (André Gonçalves), líder de sua tribo, que sabe ler e escrever em português e ajuda Dom Braz nas suas empreitadas.
- Pelo mar chega Beatriz (Leandra Leal), a noiva de Tiago, que é também sua prima. Trata-se de uma menina cheia de sonhos e apaixonada pelo futuro esposo, que sequer conhece. Junto com ela chegam Ana (Letícia Sabatella), a prostituta Antônia (Claudia Ohana) e padre Miguel (Matheus Nachtergaele). A chegada dos personagens até Lagoa Serena se dá por uma tortuosa caminhada através da Serra do Mar, que já simboliza toda a dificuldade que uma dama européia – Beatriz – encontra na rudeza dos territórios brasileiros da época. Ao longo do caminho, porém, ela se revela alguém de muita fibra e força, disposta a enfrentar tudo para alcançar seus objetivos, despindo-se de seus sapatos e vestes para enfrentar os campos coloniais.
- Ana é uma cristã-nova, que chega triste ao Brasil para cumprir sua promessa e casar-se com Dom Jerônimo (Tarcísio Meira) – um comerciante inimigo de Dom Braz. A promessa de casamento fora feita por seu pai, a quem Dom Jerônimo livrara da fogueira da Inquisição. Ao chegar ao Brasil, Ana é recebida por Guilherme Shetz (Alexandre Borges), responsável por levá-la até Dom Jerônimo. Assim, Ana passa uma noite na casa de Guilherme, pressentindo que seu destino após a boa companhia do rapaz não seria bom. A figura de Dom Jerônimo era a síntese da hipocrisia religiosa de seu tempo e, ao conhecer Ana, ele passa a escravizá-la e espioná-la para saber de sua real conversão. Trata-se de um pervertido, que estupra a índia Moatira (Maria Maya) inúmeras vezes. Dissimulado, porém, passa a maior parte do tempo a procurar heresias e escrevendo cartas ao tribunal do Santo Ofício, a Inquisição.
- Antônia veio ao Brasil em busca de um bom casamento, sabendo que não havia muitas mulheres brancas por estas terras. Irreverente e debochada, a personagem ocupa funções estratégicas na trama, como mensageira entre Ana e Guilherme e, mais tarde, ao reencontrar Beatriz, ajudando-a a conquistar Tiago. Já ao chegar, cai nas graças do bem-humorado Mestre Davidão (Pedro Paulo Rangel), que passa a cortejá-la.
- Padre Miguel é um jovem idealista e verdadeiramente crente de sua missão: evangelizar o gentio. Em seu caminho, a paixão pela índia Moatira o faz rever seus conceitos e acreditar que o caminho cultural traçado por nossos indígenas não era errado, mas diferente.
- Beatriz enfrenta forte luta para conquistar o coração de Tiago. Acobertada por Mãe Cândida, Isabel esconde até quando pode sua gravidez, fruto do relacionamento com o primo a quem amava. Durante uma batalha, no entanto, Dom Braz é atingido e, antes de morrer, confessa à Isabel que ela também é sua filha. Ciente de que não poderia levar seu sentimento adiante, a moça se despede de Tiago e entrega seu filho à Beatriz, para que ela assuma sua criação. Isabel segue, então, para uma aldeia e, sob a proteção de Caraíba (Stênio Garcia), é intimada a cumprir seu destino. Voltando ao lugar que lhe pertence, em sua última cena, nua, ela anda rumo à mata, que a acolhe, dando a entender que a personagem se transforma em uma onça.
- Após denunciar vários cidadãos da vila à Inquisição, Dom Jerônimo passa a mandar prender todos aqueles que se colocam contra sua autoridade. São presos: Mestre Davidão e Antônia, Ana e Guilherme e, também, padre Miguel. Para o julgamento inquisitório, o próprio Dom Jerônimo assume o papel de juiz e arma uma audiência pública para incriminar os acusados. Lá, eles são acusados injustamente de pecados como apostasia, prostituição e devassidão moral. Perante os demais cidadãos, que acompanham inconformados aquele julgamento, todos são condenados à fogueira. Antes de ser queimado, entretanto, Guilherme consegue uma faca e acerta o abdômen de Dom Jerônimo. Nesse momento, ele passa a ouvir as verdades sobre sua própria devassidão e pecados ditas por Ana e vê, no centro da fogueira, a falecida índia Moatira, a quem estuprara diversas vezes. Desesperado com as alucinações, termina morto em uma das fogueiras que ele mesmo acendeu.
- Antônia aceita casar-se com Davidão, e Ana passa a viver ao lado Guilherme, terminando grávida. Padre Miguel se dedica a cuidar dos índios, sob orientação de Caraíba, e vê nas pequenas meninas a imagem da índia Moatira, a quem amava. Em Lagoa Serena, Afonso chega de Sabaraboçu dizendo ao cunhado Tiago que a terra do ouro não era uma lenda. Os dois tomam a estrada rumo a essas terras, em companhia de Beatriz, que se diz pronta para enfrentar o que for ao lado do marido.

Produção:
- Com uma equipe de 200 pessoas, a produção da minissérie contou com auxílio especializado de alguns caciques e pajés de tribos brasileiras, sobretudo para a feitura de inúmeros objetos cênicos, desde adereços utilizados pelos índios até suas ocas. Para a construção das ocas, foi necessário recriar a tradicional Taipa de Pilão, onde o barro era socado para formar as estruturas das paredes. Ao todo, foram feitas 14 mil telhas englobando todas as construções da minissérie. A Vila de São Paulo ocupou uma área de 10.000 m², construída próximo ao Projac. Por ser área de declive, mais de 450 caminhões de aterro foram utilizados para corrigir a inclinação e elevar o solo em cerca de dois metros. Compõem a história 15 construções grandes, como a Igrejinha, o colégio e a casa de Davidão.
- O maior e mais trabalhoso de todos os cenários, entretanto, foi o de Lagoa Serena, construído numa fazenda em Cachoeira de Macacu (RJ). A área de 10.000 m² abrigou o depósito de munições, a senzala e a casa principal, com 320m². Três aldeias indígenas também são locações de peso na história. Em uma delas, ergueram-se quatro ocas, onde foi realizada a batalha retratada no primeiro capítulo da trama. Os cenários ficaram a cargo de May Martins, Fernando Schmidt e Maurício Rohlfs, e a direção de arte foi de Lia Renha. O figurino, composto por mais de 2 mil peças, esteve sob responsabilidade de Cao Albuquerque e Emília Duncan. Na cena do Auto de São Lourenço, 150 figurantes participaram das gravações.
- A principal atração das gravações foram os índios, e a produção contou com o apoio da Funai. Foram 51 xavantes do Alto Xingu, 20 kamaiurás e 20 waurás, além dos guarani, formados por homens, mulheres e crianças das aldeias de Bracuí e Parati, e o coral de crianças, todo formado por índios da aldeia Paratimirim. Os pareci também ajudaram na construção das aldeias cenográficas.
- A segurança nas cenas envolvendo bichos foi garantida pelo Ibama, que ofereceu apoio às filmagens e mobilizou uma bióloga e um veterinário para cuidarem dos animais. Nas gravações foram feitas cenas com araras, capivaras, jaguatiricas, onças, emas, macacos, cobras e veados.
- Para as imagens da caravela utilizada no primeiro capítulo, uma parte da equipe viajou a Pensacola, EUA, onde gravou na Colombo Foundation. As cenas foram feitas em uma das naus usadas no filme 1492 - A conquista do paraíso, considerada a réplica mais perfeita existente.
- Para que o elenco e a equipe técnica entendessem o universo dos índios da época, quatro workshops foram preparados pela produção: Visão geral do Brasil em 1600, com o professor e escritor Eduardo Bueno; Os bandeirantes, com o professor Carlos Lemos, da USP; Pensamento e imaginário, com a professora Maria Helena Silveira; e Religião, cultura e linguagem, com o índio Kaká Werá e Ricardo Marielo, da Funai.

Curiosidades:
- A primeira adaptação do texto de Dinah Silveira de Queiroz foi ao ar em 1958, na TV Tupi. Outra foi feita em 1963, pela TV Cultura. Entretanto, a adaptação de maior sucesso foi realizada por Ivani Ribeiro, para uma novela homônima que foi ao ar em 1968 na extinta TV Excelsior. Na TV Globo, a exibição de A muralha, em 2000, fez parte dos eventos comemorativos em função dos 500 anos do Descobrimento do Brasil.
- Diferentemente do romance de Dinah Silveira de Queiroz, e das adaptações televisivas anteriores, a minissérie de Maria Adelaide Amaral não é ambientada no século XVIII, mas no final do século XVI. A mudança decorreu menos da vontade da autora do que da programação comemorativa da Rede Globo em homenagem aos 500 anos do Descobrimento. Na ocasião, a emissora iria produzir cinco minisséries – o que acabou não acontecendo –, cobrindo a história do Brasil desde 1500. Escolhidos as obras e os autores que assinariam as respectivas produções, Maria Adelaide Amaral decidiu contar ao telespectador o período histórico inaugurado com o ciclo dos bandeirantes paulistas. Para tanto, ela recuou a trama original de A muralha até a história dos avós daqueles personagens mostrados no livro de Dinah Silveira Queiroz. Em seguida, com o cancelamento das demais minisséries previstas inicialmente e o aumento no número de capítulos que A muralha de Maria Adelaide Amaral deveria ter, a autora foi obrigada a criar núcleos e personagens que também não existiam na obra de Dinah Silveira. Foi assim que nasceram personagens como o Padre Miguel e a índia Moatira, além do próprio Dom Jerônimo.
- A Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) concedeu à minissérie o Grande Prêmio da Crítica de TV em 2001. Tarcísio Meira recebeu, também, um prêmio na categoria de melhor ator.
- Tarcísio Meira, inicialmente, era cotado para interpretar o personagem Dom Braz, mas acabou fazendo o vilão da história, Dom Jerônimo. Outras atuações, como de Matheus Nachtergaele, Alessandra Negrini, Leonardo Brício e Maria Maya, tiveram grande destaque e receberam elogios de crítica. Na minissérie, Mauro Mendonça pôde reviver Dom Braz, a quem já havia interpretado na versão exibida pela Excelsior. Naquela produção, o ator, então aos 37 anos, foi maquiado para aparentar um homem de 70.
- A minissérie superou as expectativas da emissora em termos de sucesso de audiência e, em 2002, foi comercializada através de canais pay-per-view. No mesmo ano foi lançada em DVD e, em 2004, reapresentada em um compacto de 39 capítulos. Também foi vendida para Chile, Costa Rica, Guatemala, Letônia, Moçambique, Nicarágua, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela.

Trilha sonora:
- Para a abertura da minissérie, foi utilizada Floresta do Amazonas, de Heitor Villa-Lobos, com apenas uma modificação num dos acordes, para que a canção fosse finalizada no tempo da abertura.


Fonte: Memória Globo

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