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sexta-feira, 26 de março de 2010

O Tempo e o Vento


Autoria: Doc Comparato
Colaboração: Regina Braga
Direção geral: Paulo José
Direção: Paulo José, Denise Saraceni e Walter Campos
Direção de núcleo: Ary Grandinetti Nogueira
Supervisão: Daniel Filho
Período de exibição: 22/04/1985 – 31/05/1985
Horário: 22h
Nº de capítulos: 25

Elenco:
Adalberto Silva – Firmino
Aldo César – Maneco Terra
Aldo de Maio – Macedo
Antônio Augusto Fagundes – General Bento Gonçalves
Antonio Pompêo – Severino
Armando Bogus – Licurgo Cambará
Augusto Olympio – Antero
Bárbara Bruno – Alice
Bete Mendes – Maria Valéria
Breno Bonin – Bento Amaral
Bruno César
Camilo Andrade
Camilo Bevilácqua – Antônio
Camilo Saueressig – Pedrinho Terra
Carla Camurati – Luzia
Carlos Kroeber – Dr. Nepomuceno
Chaguinha – Tinoco
Chica Xavier – Laurinda
Cláudio Alves – Licurgo
Cláudio Mamberti – Nicolau
Daniel Barcelos – sacristão
Daniel Dantas – Bolívar Cambará
David Pinheiro – Dentinho de Ouro
Diogo Vilela – Florêncio
Edith Siqueira – Maruca
Edney Giovenazzi – Major Erasmo Graça
Edwiges Gama
Eleonora Prado – Onorinha
Eloísa Mafalda – Arminda
Elton Saldanha – major Lucena
Felícia Brites
Flávio Leão
Gilberto Martinho – Ricardo Amaral
Gilda Sarmento – Natália
Glória Pires – Ana Terra
Helga Kunz
Ibañez Filho – Chico Pinto
Íris Nascimento – Laurinda
Ivan de Albuquerque – Pedro Terra
Ivan de Almeida – Inocêncio
Jackson de Souza – Agnaldo Silva
Jacyra Silva – Gregória
Jayme del Cueto – Otacílio
José de Abreu – Juvenal
José Lewgoy – Bento Amaral
José Mayer – Aderbal Mena
Julio Leonardi
Kasé Aguiar – Pedro Missioneiro
Lélia Abramo – Bibiana
Lílian Lemmertz - Bibiana
Lima Duarte – Rafael Pinto Bandeira
Louise Cardoso – Bibiana
Lucio Yanel – Capitan
Ludoval Campos – Capitão Paiva
Lutero Luiz – Fandango
Marcelo Peniche
Marcos Breda – Horácio
Maria de Lourdes Agnostopoulos – Bruxa paraguaia
Maria Alves
Marlise Saueressig – Henriqueta
Mário Lago – Padre Lara
Maurício do Valle – Martins
Mauro Russo
Nara de Abreu – Paula
Nicácio Fagundes – Fandanguinho
Odenir Fraga – fazendeiro
Odilon Wagner – Carl Winter
Oswaldo Louzada – Florêncio
Paulo José – Alvarino
Pedro de Camargo
Renato Consorte – Padre Romano
Rosangela Halen
Silas Andrade
Simone Castiel – Eulália
Sueli Franco – cantora lírica
Tarcísio Meira – capitão Rodrigo Cambará
Tonico Pereira – Liroca
William Guimarães – Marcolino
Vera Helena Raible
Vinícius Salvatore – Jango Veiga

A Trama:
- A minissérie é baseada na primeira parte da trilogia homônima de Érico Veríssimo, O continente. Mais de cem anos estão retratados no romance, de 1777 a 1895, período repleto de transformações sociais, políticas e culturais, essenciais para a formação do estado do Rio Grande do Sul. Através das diversas gerações da família Terra Cambará, sob os olhos de Bibiana (Louise Cardoso/Lilian Lemmertz/Lélia Abramo), é traçado um retrato sobre as origens, desenvolvimento e consolidação desse estado, permeado por histórias de amores, amizades, conquistas e esperança.
- A trama é desenvolvida em quatro histórias. A primeira chama-se Sobrado e tem como tema principal as lutas políticas da região. É o momento do fim do Império e do alvorecer da República. O ano é o de 1895. No sobrado onde vivem há muitos anos, em Santa Fé, os Terra Cambarás, republicanos, estão cercados pelos maragatos. É nesse momento que Bibiana (Lélia Abramo), alheia ao embate, observa a centenária figueira da janela de sua casa e volta no tempo, resgatando lembranças e história de seus antepassados. Enquanto o coronel Bento Amaral (José Lewgoy) ameaça seu neto, Licurgo Cambará (Armando Bógus), Bibiana relembra sua origem.
- A segunda parte da minissérie chama-se Ana Terra e é narrada através da ótica do universo feminino, abordando temas como maternidade, solidão, fidelidade e sensibilidade. Ana Terra (Glória Pires) é avó de Bibiana. Com a família, ela deixa São Paulo e parte para o Sul, representando a mulher que chega à terra. Introspectiva, Ana Terra se expressa através do olhar e do gestual. Suas falas são sempre curtas, secas. Junto com a família, Ana Terra vive isolada entre as coxilhas gaúchas, levando uma vida simples e árdua. A rotina muda com a chegada do índio Pedro Missioneiro (Kasé Aguiar) que, ferido, passa a ser cuidado por ela. Ana Terra se apaixona por ele e engravida. Pedro Missioneiro morre, e a vida de Ana torna-se um verdadeiro inferno. Seu pai, Maneco (Aldo Terra), e seus irmãos, Antônio (Camilo Bevilacqua) e Horácio (Marcos Breda), rejeitam Ana. A mãe, Henriqueta (Marlise Saueressig), não tem forças para ir contra a decisão do marido e também não dá apoio à filha. Ana Terra tem seu filho sozinha e chama-o de Pedro Terra. Ana, no entanto, não contava que enfrentaria mais dias de sofrimento: o rancho de sua família é invadido por castelhanos que a estupram e matam seus pais e irmãos. Ana enterra os corpos de seus familiares e parte para Santa Fé, levando consigo seu filho, o punhal de prata de Pedro Missioneiro e a tesoura de ferro de sua mãe. Esses passam a ser seus instrumentos de trabalho, com os quais ela recomeça sua vida.
- A terceira parte da narrativa, chamada Um certo capitão Rodrigo, conta a história da formação do gaúcho no século XIX. Capitão Rodrigo representa o típico gaúcho. Ele chega a Santa Fé em 02 de novembro de 1828, dia de finados. Ninguém sabe de onde veio, nem quais são seus objetivos. No cemitério local, capitão Rodrigo pede informações sobre a cidade para a família Cambará, que reza sobre o túmulo de Ana Terra. A atração entre ele e Bibiana (Louise Cardoso) é imediata. Ele passa a disputar a bela jovem com Bento Amaral (Breno Bonin) e vence o embate, conquistando seu amor. Rodrigo e Bibiana, apaixonados, acabam se casando, mesmo contra a vontade da família Cambará, que não incentiva a união. Alegre, bonito e sedutor, capitão Rodrigo é um homem muito cativante e tem a música como uma de suas grandes paixões. Sempre acompanhado de seu violão, conquista todas as mulheres que deseja, mas não consegue viver longe de sua Bibiana. Seu maior objetivo é alargar as fronteiras do estado e, para isso, é capaz de lutar até a morte. Sua marca é a valentia e a paixão pelos ideais. Sempre fora visto como um forasteiro pelos habitantes de Santa Fé e despertou ódio e revolta de alguns, especialmente dos poderosos locais. Um dia, os soldados de Bento Gonçalves se aproximam da região, e o capitão Rodrigo se une aos farroupilhas, deixando a mulher e o filho pequeno. Acaba morrendo, atingido por uma bala traiçoeira.
- Por fim, a quarta parte da minissérie chama-se Teiniaguá. Aqui, o destaque está nos conflitos psicológicos. Acompanhamos a história dos descendentes de Capitão Rodrigo e Bibiana (Lilian Lemmertz), com ênfase nas relações familiares e no drama de Luzia (Carla Camurati), nora de Bibiana, conhecida como a Teiniaguá. Bonita e graciosa, Luzia chega a Santa Fé em 1853. Envolve-se com o filho de Bibiana e Rodrigo, Bolívar Cambará (Daniel Dantas), um homem forte e belo, mas com personalidade fraca. Aos poucos, Luzia vai dando sinais de loucura, o que a faz entrar em conflito com Bibiana. Quando nasce seu filho, Licurgo (Cláudio Alves), a relação com a sogra fica insustentável. Algum tempo se passa, e Bolívar morre, para desespero de Bibiana, que não se recupera da perda do filho. Logo em seguida, Luzia adoece, vítima de um surto de cólera na cidade. Trancada em seu quarto, decide se matar para acabar com as agonias. Bibiana, então, assume o sobrado de Santa Fé, queima todos os pertences da nora e tranca seu quarto com os móveis que restam.
- Todos esses episódios passam pela mente de Bibiana enquanto, no sobrado, além do cerco dos maragatos, Alice (Bárbara Bruno), mulher de Licurgo, está prestes a dar à luz um filho. Licurgo resolve, finalmente, ceder e pede redenção. A guerra chegara ao fim e, em nome do governo republicano, o major Lucena (Elton Saldanha) informa que Santa Fé está livre. Em seu último delírio, a velha Bibiana encontra-se com todos os seus antepassados. O capitão Rodrigo chama a mulher para ir com ele, mas ela diz que prefere ficar no sobrado. Assim, a história de O tempo e o vento chega ao final.

Curiosidades:
- O tempo e o vento foi a maior e mais ousada produção da Rede Globo até então. Além do alto investimento, a minissérie contava com cerca de 100 personagens, quase seis mil figurantes, teve aproximadamente mil cenas e mais de 60% de suas seqüências gravadas ao ar livre. Foram quase cinco mil pessoas envolvidas no projeto durante todas as etapas.
- A cidade cenográfica foi construída numa área de 40.000m, em Pedra de Guaratiba. Foi projetada por Mário Monteiro exatamente como Érico Veríssimo a descreve no livro, com as mesmas ruas largas, as mesmas quadras, o sol marcando a passagem do tempo sobre as casas, etc. A cidade ia envelhecendo e se transformando com a passagem do tempo.
- O principal ponto de referência de Santa Fé é uma figueira centenária, parte fundamental da cenografia, elaborada para caracterizar a ação do tempo e do vento ao longo dos 150 anos de história. A estrutura da figueira, de 12m de altura e 20m de diâmetro, foi feita de ferro e fibra de vidro, a partir de um tronco implantado no chão. No último estágio, foram colocados galhos reais na árvore, cobertos com uma camada de isopor. Situada em frente ao casarão dos Terra Cambará, ela aparecia frondosa na primavera e sem folhas no inverno.
- Além das casas, ruas e árvores, a cidade cenográfica abrigou uma criação de cavalos, galinhas, bezerros e pombos e quase 200 armas e punhais.
- A casa de Ana Terra também requisitou cuidados especiais da equipe de cenografia. Era feita de torrão, fôrmas obtidas da mistura de terra e vegetação das beiras dos rios. Para construí-la cenograficamente com esse material, foi fundamental a colaboração de Ricardo Camaquã, cenotécnico da Rede Brasil Sul, um dos poucos a conhecer esse tipo de técnica.
- A minissérie também teve cenas externas gravadas em fazendas no Rio Grande do Sul nos municípios de Guaíba, Camaquã, São Miguel das Missões e Morungava.
- Os figurinos ficaram a cargo de Beth Filipecki. Mais de três mil trajes de época foram criados especialmente para a minissérie. A figurinista contou com a colaboração do Regimento Osório, do Rio Grande do Sul. Algumas roupas foram confeccionadas à mão. Outras passavam por um processo de envelhecimento para adquirirem aparência de desgastadas. Mais de 25 mil metros de tecidos foram utilizados, sem contar os adereços, como chapéus, cintos, lenços, entre outros.
- A maquiagem também fez um trabalho minucioso, já que alguns personagens da história passam por envelhecimento, como José Lewgoy, Eloísa Mafalda e José de Abreu. O trabalho ficou sob responsabilidade de Jaque Monteiro. Antônio Augusto Fagundes, um dos mais conhecidos tradicionalistas do Rio Grande do Sul, trabalhou com a equipe de produção, auxiliando na direção de arte e na assessoria de figurinos.
- Inúmeras cenas de batalhas pontuavam a narrativa. Grandiosas e intensamente dramáticas, foram um trabalho à parte para a equipe de produção, exigindo cuidados pontuais. Para a cena da enorme batalha mostrada no capítulo inicial, por exemplo, a equipe montou uma estrutura especial. Foram usadas quatro câmeras e uma grua de 20m. Na seqüência, várias casas são incendiadas e mais de mil tiros de festim foram disparados. Ao lado do elenco fixo, cerca de 200 figurantes e 20 dublês participaram da gravação. A cena foi gravada em Osório, a aproximadamente 100 quilômetros de Porto Alegre.

- Seguindo a linha narrativa de Érico Veríssimo, os personagens da minissérie foram criados a partir de uma visão continental, isto é, com o objetivo de misturar falas, sotaques e culturas. Os atores do elenco, portanto, eram de diversos estados brasileiros. Por meio dessa “universalização”, estava caracterizada a estrutura de formação do Rio Grande do Sul. No elenco, repleto de grandes intérpretes, destacaram-se as atuações de Glória Pires (Ana Terra), Tarcísio Meira (capitão Rodrigo) e Lélia Abramo (Bibiana Terra Cambará).
- A minissérie marcou a volta das Séries brasileiras naquele ano e foi exibida como parte da programação de comemoração dos 20 anos da TV Globo. A idéia era, ao longo do ano, levar ao público histórias de diferentes regiões brasileiras, baseadas em obras da literatura nacional: a região Sul, com O tempo e o vento; a Bahia, com Tenda dos milagres, de Jorge Amado; e Minas Gerais, com Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
- Glória Pires conta que, para conseguir o papel de Ana Terra, teve que batalhar muito. Na mesma época em que a minissérie seria gravada, a atriz estava escalada para o elenco da novela Partido alto, de Aguinaldo Silva e Gloria Perez. Ao saber nos corredores da emissora que Paulo José, um dos diretores da série, havia cogitado seu nome para viver Ana Terra, ela correu à sala de Daniel Filho, então diretor da Central Globo de Produção, e pediu para conciliar os dois trabalhos. Depois de muitas negociações, Glória Pires conseguiu o que queria. A rotina da atriz era complicada, pois a minissérie era gravada no Rio Grande do Sul e a novela, nos estúdios da TV Globo, no Rio de Janeiro. Apesar do desgaste, a atriz considera Ana Terra um de seus melhores trabalhos. Entre as cenas marcantes de sua personagem, ela destaca a seqüência em que dá à luz Pedro, sozinha, depois de ter sido rejeitada pela família.
- Tarcísio Meira, por sua vez, intérprete do capitão Rodrigo, lembra que teve receio de aceitar o papel. Ele conta que, em 1980, havia sido convidado para viver o personagem. Como parte das comemorações do aniversário de 15 anos da Rede Globo, a história de Érico Veríssimo seria adaptada para a televisão por Manoel Carlos, com direção de Paulo José. O projeto acabou cancelado, e O tempo e o vento só veio a ser produzido cinco anos depois. Tarcísio Meira foi novamente escalado para dar vida ao capitão Rodrigo, mas o ator, então com 50 anos, achava que sua idade não era mais condizente com o personagem. Além disso, uma das características marcantes do capitão era sua paixão pela música. Ele tocava violão e adorava cantar, atividades para as quais o ator revela não ter nenhuma habilidade. Depois de algumas conversas com os diretores da série, Tarcísio Meira aceitou o desafio e recebeu inúmeros elogios de crítica e público pelo seu belo trabalho.
- Daniel Filho conta que outro ator chegou a gravar algumas cenas como o capitão Rodrigo, mas, segundo ele, era impossível pensar em alguém que não fosse Tarcísio Meira.
- A minissérie recebeu o prêmio Coral Negro de Melhor Vídeo no Festival de Cinema e Vídeo de Havana, em 1986.
- Antes de O tempo e o vento ser exibida, a emissora apresentou um especial sobre a produção da série, dirigido por Jorge Bodanzky, mostrando detalhes das gravações, aspectos da construção do cenário e da criação de figurinos e o ambiente de trabalho da equipe. Testes com atores, levantamento de locações, demarcação da cidade cenográfica também fizeram parte do documentário, que teve produção de Roberto Bianchi.
- A minissérie foi reapresentada três vezes: em março de 1986; em junho de 1991, no Vale a pena ver de novo – quando foi levada ao ar uma versão compactada em dez capítulos, somente com as histórias do capitão Rodrigo e Ana Terra; e entre 03 e 27/01/1995, em 16 capítulos, em homenagem aos 30 anos da Rede Globo.
- O tempo e o vento foi vendida para mais de 20 países, entre eles Argélia, Argentina, Bélgica, Canadá, Cuba, Estados Unidos, França, Hungria, Portugal, Suíça e Tunísia. Para ser vendida internacionalmente, foi dividida em quatro episódios.
- Em 2005, quando a TV Globo completou 40 anos e o escritor Érico Veríssimo, 100, a minissérie foi lançada em DVD. A trilha sonora também foi relançada em 2005.

Trilha sonora:
- A trilha sonora foi composta por Tom Jobim, especialmente para a minissérie. Tom Jobim chegou a acompanhar algumas gravações no Rio Grande do Sul para sentir o clima da história para a qual faria a trilha. O tema de abertura, O tempo e o vento (Passarim), teve a participação de Danilo Caymmi, na flauta, Paulinho Jobim, no violão e guitarra, e do próprio Tom Jobim, no piano e vocal. O coro era formado por Beth e Ana Jobim – filha e mulher de Tom – Paulinha e Miúcha, do grupo Céu da Boca, e Simone Caymmi, mulher de Danilo.
- Dori Caymmi e Jacques Morelembaum assinam como os arranjadores da trilha sonora, e a produção musical do disco é de Guto Graça Mello.

Fonte: Memória Globo

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