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quarta-feira, 31 de março de 2010

Hoje é dia de Maria: Segunda Jornada



Autoria: Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Direção de núcleo: Luiz Fernando Carvalho
Período de exibição: 11/10/2005 – 15/10/2005
Horário: 23h
Nº de capítulos: 5

Elenco:
André Valli - Asmodeu Rábula
Carequinha - participação especial
Carolina Oliveira - Maria
Charles Fricks - Policial / Executivo
Daniel de Oliveira - Boneco / Policial / Soldado Desertor / Cavaleiros Branco / Cavaleiro do Fogo / Cavaleiro da Noite / São Jorge
Denise Assunção - Parca
Denise Cabral - coro
Fernanda Montenegro - Dona Cabeça
Fernanda Vianna - coro
Inês Peixoto - Boneca
Janaína Prado - coro
João Sabiá - Asmodeu Marinheiro
Juliana Carneiro da Cunha - Mãe
Laura Cardoso - Senhora dos Dois Mundos
Laura Lobo - Carvoeira
Leandro Castilho - Executivo
Letícia Sabatella - Alonsa / Rosicler / Asmodéia
Maria Clara Fernandez - Guardiã do Limiar
Maria Fernanda Vianna - coro
Osmar Prado - Dr. Copélius
Phillipe Louis - Ciganinho
Ricardo Blat - Asmodeu Piteira / Gato
Rodolfo Vaz - Pato / Bêbado
Rodrigo Santoro - Dom Chico Chicote
Rosa Marya Colin - Lavadeira / Nossa Senhora Aparecida
Stênio Garcia - Asmodeu Cartola / Asmodeu Juiz / Zé do Riachim
Tadeu Mello - Rapaz Lanchonete / Bêbado

A Trama:
- Assim como a primeira, a segunda jornada de Hoje É Dia de Maria é carregada de simbolismo, com inúmeras referências aos contos populares. Na segunda parte da história, a narrativa fala sobre consumismo, guerras, explorações de menores, opressão feminina, leis de mercado, através de uma linguagem que mistura fábula, circo e ópera. Grande parte dos diálogos foram escritos em forma de canções, apesar da estrutura não ser a de uma opereta.
- A trama começa quando Maria (Carolina Oliveira), diante do mar, se deixa levar pelo oceano, inteiramente fascinada pelas ondas. Depois de um tempo, a menina é devolvida à terra, em um lugar desconhecido, e perde o rumo de casa. A primeira pessoa que Maria encontra é a Lavadeira (Rosa Marya Colin), de quem ouve a explicação de que aquele tempo é o início de tudo. Maria, então, percebe que sua jornada não terminou. Ela parte para uma longa estrada a seguir até o sítio de seus pais.
- No caminho, Maria faz dois amigos, o Pato (Rodolfo Vaz) e a Dona Cabeça (Fernanda Montenegro), que vivem brigando entre si. Dona Cabeça também é responsável pela narração da história. Juntos, os três seguem viagem até que se deparam com um Gigante adormecido, cujos sonhos são a realidade em que Maria está. Maria tenta acordá-lo para, então, reencontrar sua própria realidade, mas acaba sendo engolida pela criatura.
- Maria vai parar em um lixão de uma cidade grande. Nesse novo e desconhecido mundo, a desprotegida menina encontra novos personagens inventados pelo maligno Asmodeu (Stênio Garcia, Ricardo Blat, João Sabiá e André Valli), o diabo que tanto a perseguira na primeira jornada. Maria se vê diante também das guerras e da intolerância dos homens.
- A menina se depara com Boneca (Inês Peixoto), a estrela do Teatro de Variedades, de propriedade de Asmodeu Cartola (Stênio Garcia), e fica fascinada com seu show. Durante uma apresentação, Boneca tem um curto-circuito, despertando a ira de Cartola. Ele a desmonta e a joga fora, no meio da rua, e coloca a pequena Maria no seu lugar. Ela passa a se apresentar nos shows como a Piano Baby. O tempo passa, e Maria continua sendo a estrela do Teatro de Variedades da cidade, mas sente saudade de casa. A menina diz a Asmodeu que vai partir, e ele fica furioso. Finalmente, Maria percebe que Asmodeu Cartola é seu velho e maior inimigo. É nesse momento que ela conhece seu grande amigo, Dom Chico Chicote (Rodrigo Santoro), um poeta e mendigo sonhador, apaixonado pela decidida Alonsa (Letícia Sabatella). Um tumulto toma conta da cidade, e policiais prendem uma mulher. Maria a reconhece, é a Lavadeira que lhe ajudara no início da história.
- Maria e Chico Chicote decidem conclamar a multidão para uma passeata contra as injustiças e a favor dos sonhos. Asmodeu aparece para Maria e ela foge, perdendo-se de Chico Chicote. Sozinha, Maria decide ir para o mar em busca de tranqüilidade e é assediada por Asmodeu Marinheiro (João Sabiá), que quase a convence a se jogar no mar do esquecimento. Quando ouve o barulho de uma multidão, a menina desperta e percebe que Chico Chicote corre perigo. Ele é acusado de perturbar a ordem da cidade e é condenado a ser lançado no mar do esquecimento. Nem os apelos de Maria e de Alonsa, que se declara apaixonada por ele, amolecem o coração dos habitantes da cidade.
- No entanto, um inesperado acontecimento muda o destino de Chico Chicote: O Gigante, que despertara, começa a destruir becos, vielas e tudo que encontra pela frente. A multidão entra em pânico, e o caos se instaura na cidade. Maria se esconde na loja de bonecos de Dr. Copélius (Osmar Prado). Os Soldados da Limpeza (Charles Fricks e Leandro Castilho) aparecem e fazem o doutor desaparecer com um tiro. Mas Maria consegue se salvar ao se fingir de boneca.
- A guerra destrói inteiramente a cidade. Enquanto Maria caminha pelas ruas destroçadas, ela finalmente encontra Chico Chicote. Ele, no entanto, sofre com a morte de sua amada, Alonsa, a quem chamava de Rosicler. Perdidos e com fome, os dois percebem que a guerra também destruiu a amizade e confiança que tinham um no outro, e os dois se separam. Maria é perseguida pelo Gato (Ricardo Blat), na verdade, mais um disfarce de Asmodeu, enquanto Chico Chicote parte em direção ao mar do esquecimento, onde tem uma visão de Asmodéia (Letícia Sabatella).
- De repente, Maria vê Chico Chicote afundar lentamente no mar. Desesperada, ela pede que o Gato o salve, mas o bicho é incapaz de fazer uma boa ação. Maria acaba salvando Chico Chicote sozinha. Sem memória, o poeta decide confiar na menina, que promete ajudá-lo a recuperar suas lembranças. Os dois seguem juntos. Maria tenta avivar a memória do amigo, lembrando histórias e coisas de que ele gostava. Aos poucos, o poeta vai recuperando a memória, para alegria da menina. Os dois amigos têm uma surpresa quando o Cavaleiro Branco (Daniel de Oliveira) cruza seu caminho, lhes concedendo um desejo. Em seguida, encontram com o Cavaleiro de Fogo (Daniel de Oliveira), que concede Justiça aos dois.
- Maria decide pedir um desejo ao Cavaleiro Branco: que o amigo Chico Chicote voe. De repente, Chico Chicote começa a voar, e Maria grita de felicidade. Tomado por uma imensa emoção, ele embaraça-se nas próprias asas e, como um pássaro ferido, cai ao chão, morto. Rosicler aparece cantando em sua frente, fazendo com que Chico desperte. Felizes, os dois partem juntos.
- Sozinha novamente, Maria segue sua jornada. Cansada e com febre, a menina encontra com a Senhora dos Dois Mundos (Laura Cardoso), que a enche de coragem para não desistir. Exausta, ela segue em direção a sua casa. Ao encontrar o Cavaleiro da Noite (Daniel de Oliveira) pelo caminho, a menina pede que ele a faça voltar para casa o mais rápido possível, e ele lhe abre a estrada. Quando tudo parecia bem, Asmodeu aparece novamente para tentar atrapalhar a felicidade de Maria. Para salvá-la, o Cavaleiro da Justiça (Daniel de Oliveira), São Jorge, surge na estrada e, com sua lança, mata a maldade de Asmodeu e o transforma em um simples Caboclo, a quem Maria batiza de Zé do Riachim (Stênio Garcia).
- Na sequência final da história, Maria está em casa, deitada em seu quarto. Com febre, a menina recebe os cuidados da Avó e do Pai, preocupados com seu estado de saúde. Maria chama pela avó, com a voz fraquinha: “Vó, conta a história de novo?”. A Avó senta-se na cadeira ao lado da cama de Maria e começa a contar a história, recheada de aventura e fantasia, cheia de personagens fantásticos como Gigante, Dom Chico Chicote, Rosicler e muitos outros.

Produção:
- Para ambientar a segunda jornada da pequena Maria, foi construída, dentro do domo utilizado na primeira produção, uma cidade de aproximadamente 2300m de área. Eram quatro quarteirões com trânsito nas avenidas, casas e lojas, um teatro, uma rodoviária e uma orla, com um pedaço de mar. Trabalhando com o mesmo conceito da primeira jornada, em que o espaço retratado pela narrativa é um espaço simbólico, a cidade foi toda construída em papelão e papel plotado e seus habitantes são bonecos. Para os bonecos figurantes, o artista plástico Raimundo Rodrigues e sua equipe construíram cerca de 120 cabeças, com diferentes expressões, que se revezavam em quinze corpos articuláveis de madeira e fibra de vidro. Entre as cabeças, 20 foram preparadas para ter articulação nos olhos e boca, como bonecos de ventríloquo.
- O grupo mineiro Giramundo também participou da produção da segunda jornada da minissérie. Um dos trabalhos de destaque feito por eles foi a traquitana na qual Chico Chicote tenta alçar vôo, em determinado momento da história. Construída com sucata de metal e engrenagens, era possível movimentar as enormes asas de plástico costuradas na engenhoca. O dragão marinho também merece destaque. Construído pela artista plástica Chang Chi Chan, a criatura lembrava a figura de um Leviatã. A artista se inspirou num afresco de Pompéia. Com cerca de 12m de comprimento e 2m de altura, o dragão movimentava cabeça e patas, cuspia fogo e enroscava o próprio corpo, revestido por mais de 15 mil escamas de papel reciclado.
- A minissérie também lançou mão da linguagem de animação, como na primeira produção. A equipe de César Coelho, diretor do Festival Anima Mundi, foi responsável pelas posições expressivas de todos os bonecos figurantes e pela construção de carros animados em stop motion, além de outras seqüências da narrativa.
- Das inúmeras vestimentas produzidas pela equipe de figurino, destaca-se o terno feito só com classificados usado pelo personagem Boneco. A roupa era uma crítica ao consumismo desenfreado. O figurino de Alonsa também chamava atenção. Descendente de espanhola e suburbana, a personagem exagerava nos acessórios. Uma das peças mais interessantes do seu guarda-roupa era um sutiã todo feito de papel de bala, com aplique de tampinhas de garrafas e pedrinhas coloridas. Para Chico Chicote, a inspiração foram as obras de Bispo do Rosário. Todas as roupas do núcleo do Teatro de Variedades da cidade foram inspiradas nas obras de Toulouse-Lautrec. A saia de cancã com que Dona Boneca se apresenta foi toda feita de papel de seda com um bordado especialmente aramado, para ser gravado em animação.
- A equipe de caracterização e maquiagem deu à pele dos personagens um tom de branco amarelado, com bochechas rosadas. Chico Chicote tinha uma maquiagem diferenciada: sua pele era mais iluminada, puxada para o tom dourado. O ator Stênio Garcia tinha um enorme nariz com 15cm, feito a partir de uma fôrma e desenvolvido em látex.
- O trabalho de iluminação é um dos pontos altos da minissérie. Assim como em outros trabalhos do diretor Luiz Fernando Carvalho, a luz era essencial para envolver o telespectador na atmosfera lúdica da história. Para iluminar todo o domo, foram utilizados mais de 420 refletores. Além dos quatro grids de luz que dividiam o teto da cúpula, três balões difusores se deslocavam em cabos de aço para preencher o domo com uma luz suave, como a do céu. Projeções luminosas ajudaram a criar o caos urbano que assustava a pequena Maria. Para reproduzir o trânsito, característica dos grandes centros, foram usadas duas grandes grades, posicionadas em cantos opostos do cenário, uma com faróis e outra com lanternas traseiras penduradas que piscavam de forma intermitente para provocar a sensação de deslocamento dos carros.
- A equipe de cenografia usou como referências as pinturas do americano Robert Rauschenberg, a pop art e as obras do escultor suíço Jean Tinguely, para criar os objetos da cidade de papel, como os postes de eletricidade, feitos com aro de bicicleta. O mar também exigiu atenção especial. Vinte telas presas a estruturas com alavancas manuais giratórias faziam o movimento das ondas. A pintura foi feita à mão. As imagens pintadas ao fundo da cidade foram inspiradas em filmes como Metrópolis, de Fritz Lang, e o mar, nas telas de Paul Klee.
- Além das inúmeras inovações de formato, Hoje É Dia de Maria trouxe novidades para a engenharia da Rede Globo: pela primeira vez na América Latina foi usada a câmera Digital Viper, da Thompson. A câmera de alta definição para cinema capta imagens com resolução quase cinco vezes superior as outras HDs existentes no mercado. Com sistema tapeless, a imagem é transmitida através de fibra óptica para um servidor na ilha de pós-produção, onde é gravada.
- O elenco da segunda jornada é o mesmo da primeira, mas a maior parte dos atores interpreta outros personagens. Assim como na primeira temporada, o elenco e a equipe de produção assistiram à palestra do psiquiatra Carlos Byington sobre arquétipos e mitos.
- O elenco também fez aulas de preparação corporal, vocal e musical. Os preparadores corporais Tiche Vianna e Luis Louis ajudaram os atores a criarem um corpo para os seus personagens, fazendo com que eles se comunicassem através dele, deixando de lado a interpretação naturalista. Tiche Vianna trabalhou com máscaras. No início da preparação, ela fez exercícios com máscaras neutras, sem expressão. Posteriormente, os atores passaram a criar suas máscaras. Depois do trabalho com as máscaras, Luis Louis deu continuidade à preparação corporal através de técnicas de mímica moderna do Etienne Decroux. Para a preparação de voz, além das aulas de canto, os atores aprenderam técnicas de respiração e até de aikidô, tudo para auxiliar o canto em cena.

Curiosidades:
- O palhaço Carequinha fez uma participação especial na minissérie. Ele tocou realejo em uma cena em que Rodolfo Vaz e Tadeu Mello, bêbados, cantam a música Realejo dos Bêbados.
- A minissérie ganhou uma exposição na estação República do metrô em São Paulo. O público pôde ver fotos, figurinos, bonecos e parte do cenário da segunda jornada.
- O roteiro da minissérie chegou às livrarias pela Editora Globo, em 2005. Em dezembro de 2006, Hoje É Dia de Maria foi lançado em DVD. Com três discos, a edição traz a íntegra da primeira e segunda jornadas.

Trilha sonora:
- Na segunda jornada, o trabalho com a música foi ainda mais aprofundado. A pesquisa musical foi feita pelos autores Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu e pelo maestro Tim Rescala, que partiram das obras do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do compositor alemão Kurt Weill. As mais de 50 canções foram gravadas em estúdio, mas algumas foram captadas ao vivo, durante as gravações da minissérie. Para isso, os atores usavam microfones de lapela escondidos e monitores de ouvido para escutar a base instrumental ou o playback da música.


Fonte: Memória Globo

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