terça-feira, 30 de março de 2010
O Auto da Compadecida
Autoria: Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão
Direção geral: Guel Arraes
Direção de núcleo: Guel Arraes
Período de exibição: 05/01/1999 - 08/01/1999
Horário: 22h30
Nº de capítulos: 4
Elenco:
Aramis Trindade - cabo Setenta
Bruno Garcia - Vicentão
Denise Fraga - Dora
Diogo Vilela - padeiro Eurico
Enrique Diaz - capanga
Fernanda Montenegro - Nossa Senhora, a Compadecida
Lima Duarte - Bispo
Luís Mello - Diabo
Marco Nanini - cangaceiro Severino
Matheus Nachtergaele - João Grilo
Maurício Gonçalves - Jesus
Paulo Goulart - major Antonio Morais
Rogério Cardoso - Padre João
Selton Mello - Chicó
Virginia Cavendisch - Rosinha
A Trama:
- Baseada na peça teatral homônima de Ariano Suassuna, O auto da Compadecida é uma comédia que mistura regionalismos e religiosidade, fazendo referência à pobreza e à vida sofrida dos habitantes do Nordeste.
- A microssérie conta em quatro episódios as aventuras de João Grilo (Matheus Nachtergaele), um sertanejo desnutrido e malandro que faz da esperteza seu modo de ganhar a vida, e seu companheiro de estrada Chicó (Selton Mello), um mentiroso compulsivo e covarde, que é metido a valente e conquistador.
- A história se passa no início da década de 1930, quando a dupla chega a Taperoá, no sertão paraibano, anunciando pelas ruas da pequena cidade a exibição do filme A paixão de Cristo na igreja, para ganhar alguns trocados. Sabendo que o padeiro Eurico (Diogo Vilela) precisa de ajudantes, Chicó e João Grilo passam a trabalhar e morar na padaria. Enquanto Chicó se torna um dos muitos amantes de Dora (Denise Fraga), a fogosa mulher do padeiro, João Grilo aproveita o emprego para comer de graça todos os pães que puder. Depois diz ao padeiro que foram ratos.
- No primeiro episódio, O testamento da cachorra, a cadela de dona Dora morre ao comer a ração dos dois nordestinos, na qual Eurico havia colocado veneno para ratos. Para conseguir que a cachorra tenha um enterro cristão – e assim evitar a ira dos patrões –, João Grilo consegue envolver até o padre João (Rogério Cardoso) em suas armações, inventando que ele pode levar parte de uma suposta herança deixada no testamento da cachorra. O Padre, então, subverte por dinheiro as regras da Igreja, o que atrai a atenção do Bispo (Lima Duarte) que está de visita à cidade e quer sua parte na herança.
- No segundo episódio, O gato que descome dinheiro, o poder e a austeridade da cidade aparecem na figura do major Antônio Morais (Paulo Goulart), um tradicional latifundiário que recebe em casa sua filha Rosinha (Virginia Cavendich), vinda de outra cidade. Ele oferece a mão da moça a um pretendente valente e com bom dote. Rosinha conhece e acaba se apaixonando por Chicó, que além de covarde, não tem dinheiro e nem posses para se casar. Depois de mais um monte de confusões, João Grilo tem uma idéia para conseguir casar o amigo e, quem sabe, pôr as mãos em um pouco do dinheiro do Major.
- A peleja de Chicó contra os dois ferrabrás é o nome do terceiro episódio da série, no qual João Grilo usa toda a sua lábia para provocar um duelo entre os dois valentões da cidade: o cabo Setenta (Aramis Trindade) e Vicentão (Bruno Garcia). Na verdade, trata-se de um plano para que Chicó, por meio de uma série de imposturas, pareça valente diante de Rosinha e do major. A idéia dá certo e, mesmo sem condições financeiras, Chicó vai pedir mão da moça ao pai dela. O fazendeiro aceita, mas propõe um pacto: no dia do casamento, o noivo teria que apresentar uma “paga” de dez contos de réis em troca da mão de Rosinha. Se ele não conseguisse reunir o dinheiro, teria uma tira de pele arrancada das suas costas pelo próprio major. Apesar de acuado, Chicó concorda.
- Para ajudar o amigo, João Grilo marca um encontro entre Chicó e a mulher do padeiro – cobrando dez contos de réis –, para que a dívida seja paga e tudo resolvido. Mas o plano falha. No último episódio, O dia em que João Grilo se encontrou com o diabo, João tem mais uma idéia salvadora. Chicó fingiria que morreu diante dos olhos de toda a cidade, enfiando uma faca em uma bexiga cheia de sangue escondida debaixo da roupa. João Grilo o “enterraria” bem longe, em outra cidade. Rosinha fingiria enlouquecer de tristeza e, mais tarde, iria encontrar o amado.
- Os dois só não contavam que, no dia e hora exatos para executar o plano, o bando do cangaceiro Severino (Marco Nanini) invadisse e saqueasse Taperoá. O cangaceiro faz reféns na Igreja o padre, o bispo, Dora e Eurico, Chicó e João Grilo. Os sacerdotes e o casal são executados pelo bandido com tiros de espingarda.
- Prevendo que sua hora está chegando, João Grilo usa novamente a cabeça. Primeiro, finge matar Chicó espetando a bexiga de sangue. Em seguida, anuncia que pode trazer de volta o amigo tocando sua gaita, que diz ter sido benzida pelo Padre Cícero, de quem Severino é devoto fervoroso. O cangaceiro fica maravilhado quando vê Chicó “ressuscitar” diante dos seus olhos e acredita estar diante da oportunidade de conhecer seu Padrinho pessoalmente: basta morrer e, depois, reviver quando seu Capanga (Enrique Diaz) tocar a gaita mágica. Assim é feito, e Severino morre. Quando percebe que foi trapaceado, o Capanga mata João Grilo.
- O desfecho da história se dá no julgamento de todos os mortos perante o Tribunal das Almas, aonde vão parar o Padre, o Bispo, Eurico, Dora, João e Severino. O juiz é Jesus Cristo (Maurício Gonçalves), que aparece na forma de um homem negro e cheio de compaixão. O Diabo (Luis Melo) é uma espécie de advogado de acusação, que tenta provar que todas as almas devem ser condenadas e entregues a ele.
- Sem muitos argumentos a favor de sua absolvição, João Grilo pede a presença de Nossa Senhora, a Compadecida (Fernanda Montenegro). Graças à sua intervenção, todos são livres da condenação ao inferno. Ela mostra que Eurico perdoou a esposa, que lhe confessou seu amor, e que o Padre e o Bispo terminaram perdoando seu assassino. João Grilo já caminha em direção à porta do inferno, certo de que não havia perdão para nenhum dos seus pecados. Mas a Santa propõe ao Senhor que dê uma segunda chance ao rapaz, alguém que nasceu tão privado de vantagens e entregue a uma realidade tão desalentadora, a qual tantas almas sucumbiram, fez apenas o que pôde para sobreviver. João Grilo acaba voltando à vida bem na hora em que seu corpo estava prestes a ser enterrado por Chicó.
- Juntos novamente, a dupla segue para o casamento de Chicó com Rosinha, que acontece sem garantias de dinheiro. A única coisa que possuem é um cofre – em forma de porca – herdada da bisavó da noiva. Após a cerimônia, a porca é quebrada e, para decepção de todos, as moedas antigas não valiam mais nada. Os três fogem da ira do major Antônio Morais e terminam dançando em pleno sertão, ao som da gaita de João Grilo.
Produção:
- A minissérie O auto da Compadecida foi toda filmada em película na cidade de Cabaceiras, no sertão da Paraíba, e nos estúdios do Projac e Cinédia, no Rio de Janeiro. Ao total, foram 37 dias de filmagem, cerca de nove dias para cada capítulo. Para as gravações, foram adaptadas as fachadas de 59 casas, 22 postes de iluminação foram trocados, inúmeros cabos telefônicos foram escondidos, e a igreja, totalmente pintada. Para a equipe de 65 pessoas e mais o elenco, foram alugadas 12 casas, duas fazendas, um rancho e todas as acomodações de um hotel em Boqueirão, localizado a 20km do local das gravações.
- A caracterização do elenco ficou a cargo de Marlene Moura, também responsável pela prótese dentária usada pelo ator Matheus Nachtergaele, de aspecto amarelado e irregular, escurecendo, também a sua pele. O ator Marco Nanini usava um figurino feito por Cao Albuquerque que chegava a pesar oito quilos, além de um olho de vidro, látex no rosto e peruca. O padeiro ganhou uma peruca e mechas claras, enquanto sua mulher, com pele bem clara, usava batom vermelho. Cao Albuquerque trouxe à cena uma mistura entre os estilos arcaico e nordestino. Para conseguir um visual envelhecido e gasto, as roupas de todos os personagens foram jogadas num caldeirão, tingidas e lixadas várias vezes, adquirindo o aspecto desgastado que se almejava.
- Para a direção de fotografia, a TV Globo contratou o argentino Félix Pontes. Foram utilizados recursos de animações para as histórias de Chicó.
Curiosidades:
- Matheus Nachtergaele fez muito sucesso como o protagonista esperto e de olhar vesgo, na verdade, um arquétipo do sobrevivente popular brasileiro, daqueles que mesmo imersos em um universo de miséria e pobreza possuem um espírito livre, impossível de ser controlado.
- Na obra original de Suassuna, a personagem Rosinha era apenas citada, mas ganhou grande destaque na versão para a televisão.
- O auto da Compadecida ganhou o Grande Prêmio da Crítica, em 1999, concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). No ano 2000, foi reeditada e levada às telas de cinema, contabilizando mais de dois milhões de espectadores, um marco para os padrões brasileiros. Como filme, recebeu quatro prêmios no Grande Prêmio Cinema Brasil, nas seguintes categorias: Melhor Diretor (Guel Arraes), Melhor Ator (Matheus Natchergaele), Melhor Roteiro (Guel, Adriana Falcão e João Falcão) e Melhor Lançamento, além de ter recebido indicação na categoria Melhor Filme. No exterior, recebeu o prêmio do júri popular do Festival de Cinema Brasileiro de Miami.
- Foi reapresentada em formato de filme em janeiro de 2002, no Festival nacional, durante a faixa noturna de programação da TV Globo dedicada à produção de cinema brasileiro. Em outubro do mesmo ano, o filme foi mais uma vez reapresentado numa tarde de domingo.
- A microssérie foi vendida para Portugal.
Trilha sonora:
- Para compor a trilha sonora original da microssérie, o produtor musical João Falcão ficou quatro dias no Recife com o grupo Só Grama, dirigido pelo maestro Sérgio Campelo. As canções foram gravadas de acordo com as características dos personagens e dos climas das cenas, com um trabalho de pesquisa baseado em músicas tradicionais. Participaram das gravações muitos músicos pernambucanos.
- Aboio (de domínio público) foi a música de abertura de O auto da Compadecida, e Presepada (de Sérgio Campelo) deu título à canção tema de João Grilo.
Fonte: Memória Globo
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