sábado, 27 de março de 2010
O Primo Basílio
Autoria: Gilberto Braga e Leonor Bassères
Direção: Daniel Filho
Período de exibição: 09/08/1988 – 02/09/1988
Horário: 22h30
Nº de capítulos: 16
Elenco:
Alexandra Marzo – Mariana
Alexandre Zachia
André Valli – Ernesto Ledesma
Ângela Rabelo – Raimunda
Beth Goulart – Leopoldina
Carmem Silva
Cláudio Mamberti – João Noronha
Denise Fraga – Natália
Eduardo Lago – Arnaldo
Ênio Santos – Paula dos Móveis
Fabio Sabag – Castro
Fafy Siqueira – patroa de Juliana
Giulia Gam – Luísa
Guida Viana
Guilherme Leme – Pedro
Henriqueta Brieba – Rita
Hércules
Humberto Catalano – Gouveia
Ibanez Filho
Isaac Bardavid – Artur
Jorge Chaia
Jorge Napoleão
José de Abreu – Julião Zuzarte
José de Oliveira
Lafayette Galvão – Alves Coutinho
Lídia Mattos
Louise Cardoso – Joana
Ludoval Campos
Marcos Paulo – Basílio
Marga Abi Ramia
Maria Cristina Gatti
Maria Lucia Dahl – D. Jojó
Marília Pêra – Juliana
Marilu Bueno – D. Felicidade
Mirian Tereza – Helena
Nica Bonfim
Norma Geraldy – Henriqueta
Oswaldo Louzada – Cunha Rosado
Ovídio Abreu
Paulo Guarnieri – Fernando
Pedro Paulo Rangel – Sebastião
Peter Wooley
Raul Gazolla – cocheiro
Renato Consorte – Vicente
Salma Samyr
Sérgio Viotti – conselheiro Acácio
Suzana Kruber
Tina Ferreira
Thaís Portinho
Thelma Reston – Gertrudes
Tina Ferreira
Tonico Pereira – Mendonça
Tony Ramos – Jorge
Turíbio Ruiz
Ursula Canto
Vic Militello – Carvoeira
Virgínia Lemos
Walney Costa – Visconde Reynaldo
Zilka Sallaberry – Vitória
A Trama:
- Adaptado do romance homônimo de Eça de Queiroz, a trama de O primo Basílio se passa em Lisboa, no final do século XIX, e conta a história do envolvimento amoroso entre dois primos.
- A narrativa apresenta quatro personagens centrais: Luísa (Giulia Gam), seu primo Basílio (Marcos Paulo), seu marido, Jorge (Tony Ramos), e a empregada Juliana (Marília Pêra).
- A trama tem início quando Basílio, um jovem burguês rico e exibicionista, chega a Lisboa, após uma viagem à Inglaterra, e se envolve com a bela e sonhadora Luísa. Os dois se apaixonam, mas Basílio é obrigado a viajar para o Brasil devido à falência de uma firma de seu pai, na Bahia, e deixa a amada em Portugal. Ele promete a Luísa que voltará em breve e os dois se casarão antes do que ela imagina. Nos primeiros meses, Basílio escreve à Luísa com freqüência. Com o passar do tempo, no entanto, a relação entre os dois esfria, e ele deixa de mandar notícias. Certo dia, Luísa recebe uma carta na qual Basílio termina definitivamente o namoro.
- Luísa fica arrasada com o rompimento e só se recupera anos depois, quando conhece Jorge, um jovem engenheiro com quem se casa. Jorge é o exemplo típico da classe média lisboeta da época. Profissional respeitado, muito competente, um homem de idéias conservadoras, muito íntegro e querido por todos que o cercam. Ao conhecer Luísa, apaixona-se por seu jeito desprotegido, gracioso e frágil. Encantado pela mulher, faz tudo por ela e sonha em ter filhos o mais rápido possível. Luísa tornou-se uma mulher muito atraente e simpática. Ela não se apaixona por Jorge, mas vê no casamento uma segurança.
- Com a morte de uma velha tia, Jorge leva para trabalhar em sua casa a empregada Juliana, uma mulher perversa e muito invejosa. Juliana é feia, amargurada, uma mulher que nunca se envolveu com nenhum homem, revoltada com sua condição social. Sofre de uma séria doença do coração, o que a deixa mais infeliz. Aos poucos, ela começa a se intrometer na vida de Luísa, transformando-se em um estorvo para ela.
- Um dia, após muitos anos, Basílio volta a Lisboa, justo quando Jorge viaja a negócios. Rico e muito sedutor, Basílio acaba despertando novamente a paixão de Luísa. A atração entre os dois primos é irresistível. Luísa cede às investidas de Basílio, e os dois começam a ter um caso. Os dois passam a se encontrar numa casa de cômodos que batizam de Paraíso, onde Basílio oferece à Luísa momentos de prazer, além da oportunidade de fugir da rotina do casamento. Desconfiada da patroa, Juliana remexe em papéis no lixo e descobre uma carta, em que Luísa se declara a Basílio. Juliana vê ali a chance de mudar de vida. Ela decide chantagear Luísa e pede 600 mil-réis em troca do silêncio. Como não tem o dinheiro para se livrar da megera, Luísa acaba rendida. Juliana, no auge de sua maldade, decide tiranizar Luísa. Ela é obrigada a servir Juliana, invertendo-se as posições entre criada e patroa.
- A vida de Luísa transforma-se em um verdadeiro inferno. Ela sofre pela chantagem de Juliana e, aos poucos, passa a se dar conta de que ama verdadeiramente Jorge, e não Basílio. A constatação faz com que ela entre em crise, pois teme perder o marido, e passa a ser atormentada por uma enorme culpa. Em uma época em que a mulher era absolutamente reprimida, a traição de uma esposa era tida como um grave pecado. Para piorar a situação da jovem, ela acaba rejeitada por Basílio que, na realidade, muito vaidoso, estava seduzido pelo clima de aventura que aquele romance lhe trazia e não verdadeiramente apaixonado pela prima. Luísa conta a Basílio que Juliana descobriu tudo e propõe que os dois fujam juntos, mas ele não aceita a idéia. Quando Basílio percebe que o envolvimento pode ter conseqüências perigosas, decide deixá-la e parte para Paris.
- Cansada de tanto tormento, Luísa pede ajuda a Sebastião (Pedro Paulo Rangel), melhor amigo de Jorge. Ela lhe conta toda a verdade e o que vem sofrendo nas mãos de Juliana por conta de sua chantagem. Com a ajuda da polícia, Sebastião invade a casa de Luísa e exige que a criada entregue as cartas comprometedoras. Desesperada e consciente de que não terá escapatória, Juliana acaba sofrendo um derrame fatal e morre. Sebastião entrega as cartas à Luísa, e ela as queima. Sem Juliana e sem Basílio, tudo volta ao normal na vida de Luísa, inclusive seu casamento com Jorge, a quem ela promete dedicar-se até o fim dos seus dias.
- Mas o tormento de Luísa, no entanto, não chegara ao fim. Um dos momentos marcantes da minissérie é a cena em que Jorge descobre a traição da mulher. Ao chegar em casa, depois de uma viagem, ele recebe uma carta de Basílio para Luísa. Como ela está doente, com pneumonia, ele decide abrir e ler a correspondência. Aos poucos, as palavras de amor de Basílio tornam-se um grande tormento para ele. A reação de Jorge é contida. Ele lança um olhar para o quarto onde sua mulher está e esmurra com toda a força a escrivaninha em sua frente, machucando a própria mão. Na minissérie esta é a cena preferida do ator Tony Ramos pelas imagens sugestivas do desespero diante da traição.
- Quando Luísa se recupera, Jorge revela saber tudo sobre o romance entre ela e Basílio. As palavras de Jorge são uma punhalada em suas costas. Desesperada, ela leva as mãos à cabeça e desmaia. Jorge se compadece, diz que a ama e que nunca mais falará no assunto. Mas o golpe fora duro demais, e Luísa passa a se sentir muito mal, com febres altas e fortes dores de cabeça. O sofrimento da jovem aumenta a cada dia. Jorge permanece ao lado da mulher durante todo o tempo. Ela não responde aos medicamentos e seu médico, Dr. Julião Zuzarte (José de Abreu), pede que seus cabelos sejam raspados, na tentativa de que as compressas façam melhor efeito. Numa comovente cena, as longas mechas loiras de Luísa são cortadas, e ela sofre ao constatar que está careca. Mas o esforço dos médicos é em vão. Luísa piora a cada dia e acaba morrendo. Antes de seu último suspiro, Jorge pede a mulher que o perdoe.
- Outros personagens importantes na história são: Leopoldina (Beth Goulart), amiga de infância e confidente de Luísa; Vitória (Zilka Salaberry), tia de Juliana, uma mulher vulgar e interesseira, a única pessoa em quem Juliana confia; e Joana (Louise Cardoso), criada da casa de Jorge e Luísa, uma jovem cheia de vida.
Produção:
- Os 16 capítulos da série exigiram uma grande produção de cenários, figurinos e arte, com reconstituição primorosa e extremamente fiel da Lisboa do fim do século XIX. O cenógrafo Mário Monteiro pesquisou em detalhes as ruas de Lisboa e, sobretudo, seguiu as descrições de Eça de Queiroz, fundamentais para a realização da obra. A equipe também visitou Lisboa e procurou reproduzir a atmosfera da cidade.
- Algumas cenas da minissérie foram gravadas em Sintra, Portugal. Os jardins do Palácio Guanabara e o Clube Naval, no Rio de Janeiro, também serviram de locação para a produção.
- Para filmar as cenas em que Luísa e Basílio passeavam de barco em um lago, a equipe construiu uma estrutura de trilhos, colocada sob a água do lago, por onde o barco e a câmera deslizavam simultaneamente.
- A minissérie contou com a direção de fotografia de Edgar Moura, conhecido por sua vasta experiência em cinema.
- Foi preciso refazer alguns objetos e detalhes descritos por Eça de Queiroz, como, por exemplo, uma fechadura de época, peça importante na história. Para auxiliar na composição dos ambientes, o trabalho do fotógrafo Edgar Moura também foi essencial, assim como a produção de arte, a cargo de Cristina Medicis. Entre outros detalhes, a produtora fez uma apurada pesquisa em antiquários, no Real Gabinete Português e no Instituto Histórico-Geográfico, no Rio de Janeiro; no Museu Imperial de Petrópolis (RJ); em diversos livros de Eça de Queiroz e sobre ele. Ela também se dedicou ao estudo da culinária portuguesa, para reproduzir com fidelidade as refeições descritas pelo autor.
- Uma minuciosa pesquisa precedeu também a elaboração dos figurinos do elenco central. Para a personagem de Luísa, foram escolhidas roupas em tons alegres e tecidos leves, vaporosos, enquanto a empregada Juliana vestia-se com tons escuros, marcando a oposição entre as duas personagens. Quando, no decorrer da trama, Luísa passa a servir Juliana, a empregada começa a usar as roupas claras da patroa. Para criar as vestimentas dos demais personagens, a figurinista trabalhou a partir de obras de artistas plásticos como Monet.
- Para auxiliar na composição de seus personagens, os atores fizeram um trabalho de corpo especial, orientado por Nelly Laport. Além disso, Glorinha Beutenmüller foi contratada para preparar a voz do elenco, especialmente tirar os vícios de sotaques sem que eles perdessem a naturalidade ao se expressar como cidadãos do século XIX. Não havia preocupação de que os atores falassem com sotaque português, pois a direção avaliou que poderia soar artificial. A orientação era fazer uso de um linguajar específico da época retratada, para que o público pudesse fazer essa distinção de tempo. Expressões como “Por ele espartilhei-me” (fiquei bonita, elegante) e “Tudo muito catita” (tudo muito bonitinha), entre outras, estavam presentes no texto. O elenco teve, também, que estudar o comportamento e o gestual próprios da época.
Curiosidades:
- O romance O primo Basílio foi publicado em 1878, quando Eça de Queiroz ocupava um posto como diplomata em New Castle, na Inglaterra. O livro foi um escândalo na sociedade portuguesa. A história do envolvimento de Luísa com o primo, cometendo adultério, deixou as famílias de Lisboa apavoradas.
- A adaptação de O primo Basílio para a televisão recebeu críticas e elogios dos portugueses. Alguns intelectuais consideraram que a adaptação do romance de Eça de Queiroz não fora bem realizada. Já a Federação das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras julgou que o programa foi fundamental para a divulgação da cultura portuguesa e da literatura de Eça de Queiroz.
- Marília Pêra lembra que demorou a aceitar o convite do diretor Daniel Filho para viver Juliana. A atriz não queria dar vida àquela mulher tão infeliz e amargurada, fisicamente feia e maltratada. Um dos argumentos usados pelo diretor foi que a personagem era uma das favoritas do cineasta espanhol Luis Buñuel. Depois de muita insistência de Daniel Filho, que não via outra atriz no papel, Marília Pêra acabou aceitando o desafio. Ela conta que o processo foi muito difícil, pois Juliana era uma personagem muito forte negativamente. Mas, apesar do sofrimento, a atriz gostou muito do resultado final do trabalho.
- Giulia Gam também viveu momentos difíceis por conta de sua personagem em O primo Basílio. A minissérie era o segundo trabalho da jovem atriz na Rede Globo, ela contracenaria com a experiente Marília Pêra e sua personagem morria ao final da história, acometida por uma forte culpa. A responsabilidade era, portanto, grande. Além disso, o trabalho do diretor Daniel Filho era extremamente cuidadoso e rigoroso. Guilia Gam conta que a equipe ensaiou durante cerca de três meses antes do início das gravações.
- A minissérie foi vendida para cerca de 20 países, entre eles Bolívia, Chile, Espanha, Estados Unidos, Grécia, Macau e Portugal.
Trilha sonora:
- O primo Basílio teve direção musical de Roger Henri. A trilha sonora incluía um tema composto por Wagner Tiso, O fado da Leopoldina, com letra de Eça de Queiroz, interpretada por Beth Goulart, que fazia o papel de Leopoldina na história.
- A trilha incidental foi extraída da ópera Fausto, de Gounod, e da opereta A grã-duquesa de Gerolstein, de Offenbach. O tema de abertura era Laissez moi, tema também de Luísa e Basílio.
Fonte: Memória Globo
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